O Esquecimento, essa deterioração do nosso tecido identitário, das ligações que formulam o nosso Eu e que dão sentido à narrativa que vamos construindo com quem nos rodeia, por vezes toma-nos de assalto. Nasce assim a urgência de os expor em cena. Aos olhos. Não só aos olhos, mas também ao fácies, ao corpo, à voz, ao movimento, à perda do Eu e da principal ferramenta de trabalho de uma atriz: a memória. De os expor e de os experimentar. Como serão um par de olhos mergulhados no vórtice do vazio? Não saber quem se é e o que se representa é uma dimensão de escuridão. Um breve encontro com a Morte. O esquecimento tem duas faces, mas só se contempla a perspetiva dos vivos. Dizem que os mortos só são esquecidos, quando os vivos os esquecem. Mas… e os que, antes de morrerem, já não tinham memória? Será que depois dessa sublimação do Ser, resgataram a memória da vida física? A ACUSAÇÃO DA MALVADA CÂNDIDA ÀS FLORES é um exercício interpretativo - por estar vivo no corpo da atriz - e um exercício literário - por estar sustentado num texto - que conjugando e servindo-se – com poética - da linguagem teatral, irão relacionar em cena as vicissitudes do Esquecimento e a problemática da Morte. Num discurso, não raras vezes desconexo, mas que encontra a sua coerência nas entrelinhas, explora-se o medo de algo que não se sabe se vai Ser, ou se já É, ou se Foi e explora-se o pressentimento de um beijo da Morte e nesse limbo, como a vida que passa diante dos olhos, saúda-se e acusa-se os que foram tornados flores.
Cândida. Rega as flores numa rotina infinita. Num movimento circular. Está neste canteiro e não sabe como sair. Esqueceu-se. Não sabe se tem de sair. Se tem de ficar. Se alguém a espera. A neta? Se espera por alguém. Traz o olhar de quem tem uma conversa muda com A Morte, como quem Lhe ouve um segredo. Como se ainda não as tivesse regado, rega-as. Admira a beleza das flores como se fosse a primeira vez. Está encantada com o canteiro. Inundado. Flores mortas. Cândida, o próprio nome indica, assim nos parece no início como no fim.
Desenho de Luz, Espaço Cénico e Operação de Luz e Som: Rui Azevedo
Direção de Produção: Rosa Lopes Dias
Encenação e Texto: Pedro Fiuza
Figurinos: Cláudia Ribeiro
Fotografia de Cena: Paulo Pimenta
Ideia Original e Interpretação: Maria Quintelas
Produção: Casa das Artes de V. N. Famalicão
Registo Audiovisual: Ruben Marques
Sonoplastia: Pedro Fiuza
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Apoios: Kale Cooperativa Cultura (A22); BALA - Núcleo Dramatúrgico
Março 2023 | Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão
A turma 2023/2024 do TEUC apresenta-nos um exercício que confronta o Teatro Documental e a Ficção. Importante será referir os documentos e as histórias que serviram de base para a criação do texto que une matéria documental e matéria metafórica/ficcional. De Itália (1945), passando pelo Brasil (1968) e terminando em Portugal (1969), apresentam-se, em quadros vivos, três narrativas que, se não fosse pelas suas distâncias de espaço e tempo, poderiam ser uma só. Da Ditadura à Democracia, a figura da Resistência está humanizada e é uma constante. Começando em Itália, partimos de poemas de Cesare Pavese e Amelia Rosselli; e das histórias de Gina Galeotti e Tina Anselmi para recordarmos a importância da presença das mulheres na luta Partisan e na formação de um país livre e democrático. No Brasil, os discursos de Vladimir Palmeira, líder estudantil carioca e político Brasileiro, e a incontornável história do jovem Edson Luís lembram-nos a importância da união de um povo na luta contra a repressão. Por fim, em Portugal são as palavras de Alberto Martins e Celso Cruzeiro, por um lado, e de Hermano Saraiva, por outro; e toda a vivência conimbricense aquando da Revolta Estudantil de 1969 que nos servem de inspiração e reafirmam a importância dos Estudantes na sustentação da Liberdade. Maria Quintelas
Sete contadoras e contadores de histórias apresentam-se em cena convidando o público a testemunhar (para uns) e a reviver (para outros) as lutas de Itália, Brasil e Portugal pelo bem comum, pela Democracia. Um coro de sete jovens fala - às vezes em uníssono, às vezes desencontrado - da Resistência Partisan Italiana, da Resistência do Povo Brasileiro e da Resistência dos Estudantes em Coimbra. Num poema partido em três, dão a conhecer pedaços reais do passado que fazem parte da sua própria identidade e que agora partilham entre si e com quem está presente. Com os olhos postos no tempo que não volta, e piscam o olho ao que está para vir. “Já acabou? Ou foi só adiado?” A Resistência não acaba nunca, que não tomemos por garantido os direitos conquistados. Eles têm de ser cuidados, com muito apreço. Os direitos são flores, são Cravos: precisam de protegidos, precisam de ser regados. Com coragem.
Assistência de Encenação: Carolina Amarais Dias
Coprodução: BALA - Núcleo Dramatúrgico e TEUC - Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra
Desenho Gráfico e Ilustração: Maria Vitória do Valle
Desenho de Luz: Diogo Lobo, Nuno Vasco e Simão Lopes
Encenação e Texto: Maria Quintelas
Interpretação: Angelita Battista, Camila Di Iulio Magalhães, João Pedro Schwingel Carada, Maria Vitória do Valle, Rafael Petito Vieira, Rita Aparecida Morais, Viceste Batista
Montagem: Diogo Lobo, Nuno Vasco, Simão Lopes e Yuliya Faut
Operação de Luz: Nuno Vasco
Operação de Som: Yuliya Faut
Sonoplastia: Maria Quintelas
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Agradecimentos: Catarina Martins, Cristina Valente e Zé Diogo
Apoios: A Escola da Noite- Associação Cultural, Câmara Municipal de Coimbra, CITAC, GEFAC, IPDJ, Máfia, TAGV e Universidade de Coimbra
Abril 2024 | Sala de Bolso TEUC - Coimbra
A Companhia de Espectadores é um projeto que tem como objetivo oferecer ao público um espaço para reflexão e partilha. Partindo das obras performativas apresentadas no Theatro Circo de Braga, analisando-se as respetivas opções cénicas, desbrava-se o caminho da dramaturgia em encontros informais guiados pelo BALA - Núcleo Dramatúrgico.
Por meio de diferentes metodologias de estudo, busca-se não apenas enriquecer a vivência do espectador, mas também estreitar a relação entre o teatro e o público.
A coordenação e orientação das sessões ficará a cargo de Carlota Castro e Maria Quintelas do BALA - Núcleo Dramatúrgico.
Orientação: Carlota Castro e Maria Quintelas
Fotografia: Laís Pereira
Junho 2024 - presente | Theatro Circo de Braga
Partindo da sua primeira obra original "O Cadafalso", o BALA - Núcleo Dramatúrgico propõe uma formação de teatro para público geral. Em quatro dias, explora-se a importância da análise dramatúrgica do texto, com vista à sua aplicação prática na cena. Unindo assim as duas linguagens teatrais - a dramaturgia e a encenação - pretende-se o estreitamento da relação público-teatro.
A Oficina de Teatro e Leitura Encenada é orientada por Carlota Castro e João Francisco Silva do BALA - Núcleo Dramatúrgico.
Orientação: Carlota Castro, João Francisco Silva
Interpretação: Alex Queirós, Cândida Ramoa, Dyana Santos, Joaquim Martins, Mafalda Ferreira, Paulo Freitas, Rita Ferreira, Rosa Maria Vieira e Sofia Yamel
Fotografia e Vídeo: Maria Quintelas
Janeiro 2025 | Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery
“O Cadafalso”, partindo d’ “O Estrangeiro” do Franco-Argelino Albert Camus, procura expor a condição humana em diversas fases da sua metamorfose.
As conceções de culpa, morte e redenção são neste texto desafiadas, não através da insurreição ou da revolução, mas com recurso a uma aceitação radical cujo tremor abala infraestruturas que julgávamos estanques ao juízo. No seu primeiro texto teatral, o BALA - Núcleo Dramatúrgico desenha um lugar de conflito e dúvida, onde o ser humano se espelha, observando a distorção da moral, a subversão dos valores e a dualidade entre a realidade e a experiência.
Encontrámos o fosso. Um fosso que nunca cavámos e ao qual gritamos em desespero, aguardando por uma resposta.
Texto: Carlota Castro, João Francisco Silva, Joana Guilherme Pinto, Maria Quintelas
Novembro 2024
“O Cadafalso”, o primeiro texto para cena resultante de um processo de escrita colaborativa do BALA – Núcleo Dramatúrgico, recebeu a nomeação para o prémio de Literatura na Iniciativa de Promoção de Novos Talentos, organizada pelo Gerador e apoiada pelo IPDJ.
O coletivo – constituído por Carlota Castro, Joana Guilherme Pinto, João Francisco Silva e Maria Quintelas - foi convidado a estar presente no evento oficial da Mostra Nacional de Jovens Criadores (MNJC), na edição de 2023.
Dezembro 2024 | Santa Maria da Feira
Fotografia de: Sara Corvo / Gerador
BALA-Núcleo Dramatúrgico esteve em residência artística no Teatro Regional da Serra do Montemuro entre os dias 11 e 16 de março de 2024 para desenvolver "O Cadafalso", a partir da obra "O Estrangeiro" de Albert Camus.
O encontro e a primeira leitura do texto, por membros da comunidade, marcaram a primeira fase de um longo processo criativo e foram decisivos para a reestruturação da narrativa, e para a redefinição do estilo teatral adotado.
março 2024 | Castro Daire
Apoio à Produção: Marta de Batista
Em residência: Carlota Castro, João Francisco Silva e Maria Quintelas
Fotografia: BALA - Núcleo Dramatúrgico
BALA-Núcleo Dramatúrgico esteve em residência artística no Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, de janeiro a dezembro de 2024. Os encontros ocorriam em todas as primeiras segundas-feiras de cada mês e foram pautados pelas pesquisa e investigação da obra, do autor e do seu contexto sociopolítico. O processo criativo começou, assim, com uma primeira leitura de "O Estrangeiro", por Albert Camus e posterior análise literária em conjunto. A partir daí, o cruzamento entre a obra, a percurso do autor, e o sentimento de incerteza com o escalar da guerra da descolonização da Argélia tornaram-se elementos imperativos na adaptação da obra para texto teatral.
janeiro - dezembro 2024 | Matosinhos
Apoio à Produção: Marta de Batista
Em residência: (Presencial) Carlota Castro, Joana Guilherme Pinto e Maria Quintelas; (Online) João Francisco Silva
Fotografia: BALA - Núcleo Dramatúrgico
No dia 5 de fevereiro de 2025 o BALA - Núcleo Dramatúrgico esteve no "Inspirarte", no Colégio Júlio Dinis (Porto), para uma aula aberta de escrita criativa com os jovens atletas do Futebol Clube do Porto (FCP).
Maria Quintelas orientou uma atividade com mais de cem participantes. O desafio foi bem recebido e os jovens conseguiram escrever uma ode ao clube em menos de vinte minutos. Resgatando o Cadávre Delicioso, um jogo surrealista francês inventado nos anos vinte, do século passado, foi estabelecida a ponte entre desporto e arte.
Os jovens dragões compreenderam a importância da criatividade na resolução de imprevistos e a urgência do trabalho em equipa para a boa conclusão dos seus obejtivos.
Coordenação do Projeto: Carlota Castro
Fotografia: FCP
fevereiro 2025 | Porto